Um santo missionário para os dias atuais
Neste mês das missões, em 9 de outubro, no Vaticano, o Papa Francisco canonizou o Monsenhor João Batista Scalabrini. Além de bispo da Diocese de Piacenza, Itália, ele foi o fundador da Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos), no final do século XIX, em 1887. Mais tarde, em 1895, junto com a bem-aventurada Madre Assunta Marchetti, fundou também a Congregação das Missionárias de São Carlos (Scalabrinianas). Já na metade do século XX, surge ainda o Instituto das Missionárias Seculares Scalabrinianas. Os três institutos integram a grande Família Scalabriniana.
Família que conta, ainda, com a colaboração do Movimento Leigo Scalabriniano, o qual remonta à Sociedade São Rafael, também constituída pelo Bispo de Piacenza. São os quatro ramos que herdaram e levam adiante o carisma do trabalho com os migrantes. E por falar nisso, na mesma celebração, foi canonizado igualmente o leigo ítalo-argentino das missões salesianas, Artemidi Zatti.
No contexto da Revolução Industrial e das grandes migrações históricas, partindo do velho continente europeu em direção às Américas, a solicitude pastoral do então pastor, e agora São João Batista Scalabrini, revelou-se maior do que a própria diocese. Além de fundar os institutos supracitados, empreendeu duas cansativas viagens às novas terras da América – a primeira aos Estados Unidos e a segunda ao Brasil e Argentina –, para visitar seus conterrâneos imigrantes deste lado do Atlântico, bem como os padres e irmãs que os acompanhavam. Com razão, foi denominado pelo então Papa Pio IX como o “apóstolo dos migrantes”.
Scalabrini revela-se missionário precoce no campo da mobilidade humana: um mundo cada vez mais intenso, complexo e diversificado. Juntamente com os chamados “santos sociais” da segunda metade do século XIX, aliás, constituirá um grupo de fundadores e fundadoras de congregações inovadoras, marcadamente apostólicas, grupo que pode ser tido como precursor remoto do Concílio Vaticano II. Precursor em dupla dimensão: em primeiro lugar porque, além da mística e da vida comunitária, esses novos institutos religiosos tomam consciência dos problemas sociais da época, assumindo consequentes posturas evangélicas. Não será sem razão que o documento inaugural da Doutrina Social da Igreja vem a público em 1891: a encíclica Rerum novarum, de Leão XIII, referência para os demais escritos da DSI.
Em segundo lugar porque os mesmos fundadores e fundadoras, com profundo amor e sensibilidade social, seguidos de uma solicitude pastoral adequada, abrem o coração e a voz da Igreja para os desafios do mundo moderno. Da mesma forma, em 1962, São João XXIII abrirá as janelas do Vaticano para os ares e o oxigênio da modernidade. Não seria exagero, portanto, afirmar que o atual projeto do Papa Francisco – “Igreja em saída” –, cuja fonte nasce do próprio Jesus Cristo e da Boa-Nova do Evangelho, ganhou na época dos “santos sociais” novo impulso e maior vigor.
Verifica-se, deste modo, que o “quarto mundo” das migrações, onde se cruzam os mil rostos do outro, tem agora como seu intercessor São João Batista Scalabrini, o qual, em seu tempo, soube “doar-se todo a todos”.
Pe. Alfredo J. Gonçalves
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