Lições de São José para a comunicação
Chegamos ao fim do Ano de São José, proclamado pelo papa Francisco para o período de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021, em comemoração à declaração do pai adotivo de Jesus como padroeiro universal da Igreja. É sempre salutar olhar para a figura deste homem. São José, geralmente, é visto e invocado apenas no contexto familiar. É uma relação óbvia e necessária, mas ele é padroeiro da Igreja, portanto, há traços de sua figura que despontam como inspiração para todos os crentes: leigas e leigos, religiosas e religiosos, ministros ordenados. Há traços josefinos que devem inspirar a prática pastoral, ou seja, o nosso ser Igreja. Em nosso caso, um jeito josefino de ser na comunicação.
Seu jeito de colaborar no plano da Redenção parece bastante tímido, às escondidas ou em segundo plano, como evidencia o papa Francisco na carta Patris Corde. “O homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida” é um modelo para agente da Pastoral da Comunicação que deseja corresponder ao plano de Deus. Ele não é protagonista, é instrumento. Ele não é visto, mas sua presença é sentida. Isso faz de São José um homem de presença com o coração e com o silêncio. Esta é, acredito, a principal lição de São José para a comunicação e para os comunicadores.
Se percorrermos as páginas da Escritura, não encontraremos falas atribuídas a ele. Ele é o homem justo (cf. Mt 1,19), que recebe a comunicação de Deus nos sonhos (cf. Mt 1,20; 2,13.19.22) e que mantinha a guarda de Jesus, juntamente com Maria (cf. Lc 2, 51). Ele acompanhou momentos importantes na vida do filho de Deus, mas com a discrição citada pelo papa Francisco: o nascimento em Belém, a visita dos pastores e dos magos, a apresentação do Menino no Templo, a peregrinação em Jerusalém. Que homem incrível e inspirador!
Na carta já citada de Francisco, ele aponta sete características da paternidade de São José. Desejo trazer quatro delas para o nosso universo comunicacional e aplicá-las à prática pastoral do agente da comunicação.
O pontífice afirma que “São José é um pai que foi sempre amado pelo povo cristão”. Enquanto pai amado, ele nos inspira a uma comunicação amorosa. Esta é uma habilidade a ser desenvolvida cotidianamente: na forma como nos comunicamos com os nossos irmãos de pastoral, com os irmãos de comunidade, com a família, com aqueles que interagem conosco nos ambientes digitais. A comunicação amorosa compreende o falar, o ouvir e o escutar.
É interessante a forma como Francisco apresenta José como pai na ternura. É preciso aceitar, com ternura, as fraquezas e dificuldades. É preciso fazer a experiência da ternura no sacramento da Reconciliação. Em outra ocasião, durante um discurso a participantes de um simpósio, Francisco afirmou que “ternura é um bom “existencial concreto”, para traduzir para os nossos tempos o afeto que o Senhor sente por nós”. Este é um bom horizonte para a comunicação: traduzir o afeto que o Senhor sente por nós. Em que medida, nós, agentes da Pascom, temos conseguido traduzir a ternura do Senhor por meio de nossa missão pastoral?
Esta outra característica de São José costuma ser um calcanhar de Aquiles na vida de muita gente: obediência. São José foi pai na obediência. É preciso recuperar o significado, logo o sentido, desta palavra. Obediência, do latim oboedire significa escutar com atenção (OB, “atenção”, + AUDIRE, “escutar”). Com a obediência à palavra do anjo durante o sono, recorda Francisco, José “superou o seu drama e salvou Maria”. A obediência se reflete nos pequenos atos do nosso servir, na escuta sincera e abnegada, na condição de renúncia às próprias vontades, na confiança e paciência com que se entrega à vontade de Deus e aos desejos da comunidade.
“José acolhe Maria, sem colocar condições prévias.” É assim que Francisco inicia o tópico em que apresenta o pai no acolhimento. “O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis”. Assim deve ser a comunicação no estilo josefino: que recebe os outros sem exclusões, que comunica “encontrando as pessoas onde estão e como são” (Cf. Mensagem para o 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2021).
É possível e necessário instalar uma comunicação pastoral que se inspire na figura de São José. Um homem que fez de sua vida um dom de si mesmo e refletiu, em todos os momentos, confiança. Na mensagem para o 51º Dia Mundial das Comunicações 2017, o papa nos motiva “a romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas ‘notícias más’”. Neste tempo de pandemia que ainda, infelizmente, vivemos, tenhamos a coragem criativa de José para romper com esse círculo. Não se trata de ignorar os sofrimentos do tempo presente, mas fazer vigorar a lógica da boa notícia mesmo quando os Herodes de hoje ameaçam a nossa esperança.
Marcus Tullius
Mestrando em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-Minas). Filósofo e publicitário. Coordenador geral da Pascom Brasil e membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB. É autor do livro Esperançar: a missão do agente da Pastoral da Comunicação, pela Editora Paulus.
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