Como ser independente nesse 7 de Setembro de 2022?
A Amazônia não é madeira nem minério, como o Cerrado não é soja, nem o Pantanal é incêndio ou só água, esses biomas são casa comum, moradas de humanos e não humanos. Por isso vamos deixar que o presidente leve para Brasília muito gado, muita madeira derrubada, tratores para o desmatamento ao ritmo dos militares porque pensam eles que roubaram nossa festa cívica para transformá-la em um dia de confronto e de intolerâncias muito próprias dos autoritarismos fascistas.
Mas não nos deixamos amedrontar, vamos ser independentes e participar do 28º Grito dos Excluídos nos diversos lugares onde vivemos e temos nossa casa porque a vida está em primeiro lugar. Os 200 anos de falsas comemorações não movem os nossos corações para o que não é genuinamente brasileiro, nem que o coração de Dom Pedro possa ser manipulado de forma tão grosseira e seja trazido ao Brasil, nosso coração pulsa forte e vamos defender nossa pátria democrática e livre, capaz de se reinventar e recomeçar depois de ter dado um passo em falso na última eleição.
No dia 10 de Agosto de 2022, a Pastoral da Ecologia Integral da Arquidiocese de Cuiabá e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) promoveram uma Celebração Ecumênica e Inter-religiosa para contribuir nas mobilizações em defesa da bacia do Rio Cuiabá[1] e do Pantanal Matogrossense.[2] A reunião de preparação do Ato ecumênico e inter-religioso em defesa do Rio Cuiabá e do Pantanal aconteceu na cripta da Catedral metropolitana com a participação de diversos segmentos da sociedade. O objetivo seria chamar a atenção da população para os efeitos negativos do modelo de agronegócio, pecuária, mineração e das barragens no Rio Cuiabá que acabam gerando um passivo ambiental impagável.
O Ato aconteceu na Praça do Rosário diante de uma vista para o pôr do sol inesquecível, o vermelho do fogo de São Lourenço aparecia no horizonte e um refrão do canto em alto e bom som ligava cada uma das manifestações públicas porque era a máxima contida na Encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco: “tudo está interligado, nesta Casa Comum”.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, § 4º “A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Matogrossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”. O Pantanal Mato-grossense é a maior planície alagável da mãe terra[3] que vive pulsando uma natureza exuberante com milhares de espécies vegetais e animais, território tradicional dos Guató da Baía dos Guatós e Bóe (Bororo de Perigara), quilombolas, pequenos agricultores, ribeirinhos e populações tradicionais. Em 2000, o Pantanal Matogrossense foi reconhecido como Reserva da Biosfera Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A proposta apresentada pelo Governo Brasileiro, através do Ministério do Meio Ambiente foi aprovada, em Paris, pela Comissão Internacional do Programa Homem e a Biosfera. Mas os sinais de degradação e destruição desta biodiversidade estão relacionados com as cidades e plantações extensas que se estabeleceram no seu entorno e estão causando a morte dos rios e nascentes que formam o Pantanal.[4]
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovara por 12 votos favoráveis, duas abstenções e nove ausências, um projeto de Lei que proibia a construção de seis barragens e a instalação hidrelétricas no Rio Cuiabá, no trecho entre a cidade de Cuiabá e suas cabeceiras em Nobres, em uma extensão de 190 km. E o Governador vetou integralmente aquele projeto e diversas organizações como o Fórum Sindical, as Três Potências Maçônicas de Mato Grosso, a Pastoral da Ecologia Integral da Arquidiocese de Cuiabá, o CONIC, o Departamento de Antropologia da UFMT, diversos veículos de comunicação, entidades educacionais e outras se mobilizam para uma grande vigília na Assembleia Legislativa a fim de demonstrarem aos Parlamentares Estaduais os impactos negativos que tais barragens trarão tanto para o Rio Cuiabá quanto para o Pantanal, para derrubarem o veto do governador do Estado na sessão da Assembleia Legislativa do dia 24 de agosto de 2022, e transformem em Lei a proibição de construção dessas barragens.
Assim, em grande estilo de mobilização popular, a plenária da Assembleia Legislativa de Mato Grosso se encheu com o povo da baixada cuiabana, pescadores, indígenas, ribeirinhos etc. o que deixou os deputados amedrontados e a derrubada do veto do governador venceu com um placar de 30 votos secretos por 03. Assim nesse território sagrado do Pantanal e da baixada cuiabana estamos aprendendo como ser cidadãos de chapa e cruz, o que faz bem para o corpo e a alma de quem aqui vive, e esperamos também que se reflita no 28º Grito dos Excluídos no dia da pátria para refletir os “200 anos de (in)dependência, para quem?”, novamente na mesma Praça do Rosário (em Cuiabá), agora começando a concentração no amanhecer. E mais, que leve a bons resultados nas eleições de 2 de Outubro de 2022, ou melhor, que nem precisemos de segundo turno, pois ter um presidente que trabalhe e governe é tudo de bom, mas também um Congresso que zele pelo povo brasileiro, a começar pelos mais marginalizados, com casa, pão e direitos sociais!
[1] A bacia do alto rio Paraguai é que alimenta o bioma do Pantanal, único no mundo, mas que está cada dia mais seco, consequência dos desmatamentos, dos incêndios criminosos que se fizeram presentes nos últimos 3 anos e quase cinco milhões de hectares do território deste bioma foi destruído.
[2] Salvar os rios e o Pantanal: marca mobilização em … https://www.cnbbo2.org.br/salvar-os-rios-e-o-pantanal-ato-ecumenico... www.cnbbo2.org.br/salvar-os-rios-e-o-pantanal-ato-ecumenico-marca-mobilizac…
[3] São aproximadamente 195 mil km2, a terceira maior reserva ambiental já criada no mundo, dos quais 151 mil km2 estão no Brasil (Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul).
[4] Conforme dados de 2018, só no Rio Cuiabá, em torno de 185,3 milhões de litros de esgotos urbanos sem tratamento eram lançados anualmente.
Aloir Pacini
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