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Uma voz de esperança em São Paulo: exposição apresenta legado de Dom Paulo Evaristo Arns
Uma voz de esperança em São Paulo: exposição apresenta legado de Dom Paulo Evaristo Arns
Inaugurada no aniversário da cidade, mostra traz imagens da vida do Cardeal, conhecido por sua atuação na capital paulista, em defesa dos mais pobres e dos direitos humanos.
Há 3 anos - por Cléo Nascimento
Quem, num momento desolador, encontrasse Dom Paulo Evaristo Arns pelo caminho, certamente não seguiria adiante sem ouvir duas palavras: coragem e esperança. Ambas estão no contexto da exposição sobre sua vida e obra, inaugurada no Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS), em parceria com a Basílica Menor de Sant'Anna, na capital paulista, nesta terça-feira (25), aniversário de 468 anos da capital paulista.
A mostra "De esperança em esperança" - que está na Sala MAS/Metrô Estação Tiradentes - traz dezenas de imagens do cardeal arcebispo, que por 28 anos esteve à frente da Igreja da maior metrópole da América Latina. Através destes registros fotográficos e objetos de uso pessoal, o visitante tem a oportunidade de conhecer o itinerário pastoral e eclesiológico de Dom Paulo, que deixou sua marca não apenas na história de São Paulo, como do Brasil.
Com imagens registradas por Luciney Martins, Douglas Mansur e, também pertencentes ao Arquivo da Arquidiocese de São Paulo e do Banco de Imagens do Colégio Santo Américo, a exposição retrata momentos representativos na vida de Dom Paulo Evaristo Arns, desde sua nomeação, em 1966, como Bispo Auxiliar, seu período de cardinalato em São Paulo, com destaque aos momentos de vivência com as pastorais e outros momentos históricos, e decisivos, de transformação social.
Um pastor para São Paulo
Dom Paulo exerceu seu ministério episcopal com grande dedicação, deixando um legado de obras e ensinamentos. Nas quase três décadas com arcebispo de São Paulo, criou 43 paróquias, construiu 1.200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2.000 Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na capital paulista, tendo sua biografia relatada em uma dezena de livros.
Um dos curadores da exposição, Pe. José Roberto Abreu de Matos, explica que justamente por força da expressão política e social na atuação de Dom Paulo, corre-se o risco de se distanciar de sua ação como bispo, ministério que ele exercia "com muita propriedade".
"Às vezes nós olhamos para a figura de Dom Paulo e o vemos como um grande idealizador da liberdade, dos direitos humanos, mas não podemos esquecer que ele foi pastor e um pai pra este povo na cidade de São Paulo", diz o curador.
Uma vida dedicada a servir
Nascido em Forquilhinha (SC), Dom Paulo Evaristo Arns é o quinto filho de 13 irmãos, filho de um casal de descentes alemães, imigrantes da região do Rio Mosela. Em setembro de 1921 decidiu seguir o caminho da vida religiosa tornando-se um Frade Franciscano.
Como bispo, presidiu celebrações históricas na praça da Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, e não deixava de criticar, na época, a inflação que corroía o salário da população.
“Quando o Brasil tiver justiça social, todo mundo vai decidir por uma religião bem fundamentada e que responda aos anseios, sabendo usar uma linguagem moderna para se comunicar, assim como Jesus soube se comunicar. Uma nação precisa de solidariedade, verdade e liberdade. Isso deve nos mover no tempo e lançar o país para frente”, dizia Dom Paulo.
Dom Paulo faleceu em dezembro de 2016, aos 95 anos, reconhecido, nacional e internacionalmente, como teólogo, escritor, estudioso de patrística, defensor da pessoa humana e pastor dedicado à Igreja.
Confira a entrevista com o curador, Pe. José Roberto Abreu de Mattos Como surgiu a ideia de uma exposição sobre Dom Paulo Evaristo Arns?
Em julho de 2021, foi sugerido para nós, professores, pensarmos algo para celebrar o centenário de Dom Paulo Evaristo Arns. Alguns professores escreveram textos, eu também escrevi e, inclusive, será publicado em um livro. Mas, além disso, foram feitas várias conversas, palestras, e eu pensei que poderíamos fazer algo diferente. Então, veio a ideia de uma exposição fotográfica, trazendo presente alguns momentos importantes na vida de Dom Paulo. E nós buscamos trazer um pouco do início da vocação dele até a sua morte. Então, uma equipe se formou, incluindo Padre Ulisses Leva, que também é curador dessa exposição e começamos o trabalho de seleção de material. Nós tínhamos aproximadamente umas quatrocentas fotografias e chegamos então a 40, distribuídas em 20 totens.
Por que o Museu de Arte Sacra decidiu trazer essa exposição, inaugurando-a no aniversário da cidade de São Paulo?
Importante dizer que nesta exposição está o itinerário eclesiológico de Dom Paulo na arquidiocese de São Paulo, na vida da Igreja no Brasil, de São Paulo. Em 28 de outubro do ano passado nós inauguramos a exposição na Basílica Menor de Sant’Ana, na cidade, e muitas pessoas passaram por lá para ver. Mas o nosso desejo era, claro, expandir. No ano passado, eu fui convidado pra ser um dos conselheiros do Museu de Arte Sacra e pensei que seria interessante oferecer a exposição também para o MAS. Foi quando o diretor do museu, Sr. José Carlos Marçal de Barros e a museóloga, Sra. Beatriz Augusta Correa da Cruz, vieram à basílica verificar a exposição e manifestaram interesse em levá-la para o Museu. Então, no período de celebração do centenário de Dom Paulo e, no dia 25 de janeiro, festa de 468 anos de São Paulo, nós inauguramos essa mostra na Sala do MAS, na Estação Tiradentes do Metrô. Mas ela também continua na Basílica de Sant'Anna. É um presente para a população de São Paulo.
Quem é o Dom Paulo que a exposição quer mostrar ao público?
O 'Dom Paulo Pastor', 'Dom Paulo Bispo', que viveu a sua vida em favor dos mais pobres, que lutou pelos direitos humanos, que teve uma marca política não só na cidade de São Paulo, mas no Brasil. Mas também mostrar o Dom Paulo que era bispo. Porque, ao mesmo tempo que ele ele tinha toda essa força política, ele também exercia o seu ministério episcopal com muita propriedade. Às vezes nós olhamos para a figura de Dom Paulo e o vemos como um grande idealizador da liberdade, dos direitos humanos, mas não podemos esquecer que ele foi pastor e um pai pra este povo na cidade de São Paulo.
Estamos vivendo um momento político delicado e não podemos deixar de observar que Dom Paulo era uma figura que teve uma influência muito grande em questões que envolvem o âmbito da política, sempre no sentido de promover o bem comum. Nesse sentido, o que representa falar de Dom Paulo nesse momento?
A própria exposição fala por si. Quem visualiza as fotos, pode observar Dom Paulo no meio do povo, no meio dos pobres, na periferia de São Paulo, deixando o Palácio Episcopal, que existia na cidade de São Paulo - e que foi vendido - para estar na periferia, na construção de capelas, olhando para o pobre, para aquele que não tinha voz. Então, quando o interlocutor olha para estas imagens, ele vai lembrar que, ao mesmo tempo que ele era pastor, também era alguém que chamava a atenção dos responsáveis políticos da cidade e do Brasil.
Teve algum ponto de partida na seleção das obras que seriam expostas?
Todas as fotografias tem direitos autorais. Não é que eu tenho uma foto e eu acho bonito e vou publicar. Eu preciso saber de quem veio aquela foto. Então, nós tivemos a ajuda de dois fotojornalistas: o Douglas Mansur, que acompanhava Dom Paulo naquela época e também do Luciney Martins (Pepe). Ambos nos ofereceram muitas fotografias. Nós também conseguimos algumas imagens do acervo do Mosteiro de São Geraldo, porque quando o Papa João Paulo II veio ao Brasil ele ficou hospedado lá e Dom Paulo o acompanhou em visitas, reuniões, encontros... Nós temos também imagens de Dom Paulo com Dom Helder Câmara, tem também uma poesia linda escrita por Dom Pedro Casaldáliga e que resume toda esta realidade que estou dizendo pra você, de pastor, profeta, cidadão, político, enfim, todos esses elementos que estão aí contemplados.
Muito bonito o nome da exposição, "De esperança em esperança", podemos assim dizer, um lema de Dom Paulo.
Sim. E eu me lembro muito que Dom Paulo dizia assim que, quando uma esperança está terminando é porque uma outra esperança está nascendo... E outra das palavras de Dom Paulo, também contemplada na na exposição, é 'coragem'. Ele sempre dizia "coragem, vamos olhar para frente, não vamos abaixar a cabeça, coragem".
Particularmente, qual é o sentimento do Sr. como um dos curadores dessa exposição?
Olha, eu tenho um sentimento misto. Uma certa ternura... porque eu vejo Dom Paulo pastor, mas eu também vejo, eu sinto isso como um sacudir, pra gente não permanecer estático nesse momento político, pra poder olhar a realidade, chamar a atenção. Ele é um modelo para nós, portanto, sendo um bom modelo, a gente precisa seguir. Então, quando eu penso e visualizo essa exposição, tenho em mim todos os sentimentos, de criança, de jovem, de adulto, de pessoa que quer lutar, que quer quer fazer, que quer ser igual a pessoa dele.
Alguma lembrança especial?
Ainda como seminarista, eu cantava nas missas de Dom Paulo na Catedral da Sé e tinha a oportunidade todos os domingos de estar na missa das dezoito horas , presidida por ele. Nessa época, eu tive a oportunidade de conhecer um Dom Paulo muito humano, que chorava, que se alegrava, que era uma figura muito forte, mas ao mesmo tempo frágil... Me lembro dele dizendo que uma andorinha sozinha não faz verão e que a gente precisa uns dos outros. Isso marcou bastante o início do meu ministério sacerdotal. Em 2021, eu completei 25 anos de padre e uma das coisas que me vem sempre na memória é o legado dele, é a pessoa dele, é o estar junto com ele todos os finais de semana na Catedral.
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De Esperança em Esperança – Homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns
Curadoria: Prof. Dr. Pe. José Roberto Abreu de Mattos e Prof. Dr. Pe. José Ulisses Leva.
Duração: de 25 de Janeiro a 20 de Março de 2022
Local: Sala MAS Metrô na Estação Tiradentes (Linha 1-Azul)
Endereço: Estação Tiradentes do Metrô de São Paulo
Horários: De terça a domingo, das 11h às 17h
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