Igreja Católica na COP26: compromisso e urgência nas ações pelo planeta
Nesta sexta-feira (12), a Santa Sé divulgou um comunicado pedindo que lideranças globais tenham maior comprometimento nas iniciativas pelo meio ambiente e que se esforcem para fechar 'lacunas' que dificultam acordos.
Há 3 anos - por Cléo Nascimento
A Igreja Católica teve significativa participação na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que terminou nesta sexta-feira(12). Além de representantes em Glasgow, sua presença foi marcada por declarações de personalidades e organismos que reforçaram o apelo do Papa Francisco por atitudes urgentes em favor do meio ambiente.
Nessa quinta-feira (11), o pontífice, que não pode comparecer ao evento, enviou uma carta aos católicos da Escócia. Na mensagem, agradeceu ao povo pelas orações e novamente conclamou os líderes mundiais por mudanças reais pelo planeta.
"Imploramos os dons da sabedoria e força de Deus para aqueles que têm a tarefa de guiar a Comunidade internacional, à medida que procuram enfrentar este sério desafio com decisões concretas inspiradas na responsabilidade para com as gerações presentes e futuras. O tempo está se esgotando", alertou o papa
Esse também foi o tom da mensagem que Francisco enviou ao Presidente da COP26, Alok Sharma, no dia 2 de novembro. "Estamos todos conscientes da tarefa importante de mostrar à toda Comunidade internacional se realmente existe vontade política para destinar com honestidade, responsabilidade e coragem mais recursos humanos, financeiros e tecnológicos para mitigar os efeitos negativos das mudanças climáticas, bem como para ajudar as populações mais pobres e vulneráveis, que são as que mais sofrem com isso", dizia um trecho da carta que foi lida no evento pelo Secretário de Estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. A Santa Sé enviou uma delegação para acompanhar a Conferência.
Igreja do Brasil
Na última quarta-feira (10), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pastorais e organismos também divulgaram uma carta pedindo aos líderes mundiais e à sociedade civil que “combatam as mudanças climáticas e garantam a continuidade de todas as formas de vida, investindo na vida - dom maior e inviolável”.
Os bispos apresentaram dados de um recente estudo realizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que aponta danos irreversíveis no Semiárido, Cerrado e Amazônia, com consequências no clima brasileiro e de outros países da América Latina
"As previsões do IPCC indicam que o Nordeste brasileiro, o Centro-Oeste e a região Norte se tornarão mais secos e quentes nas próximas décadas, caso a emissão de carbono não seja zerada ainda na atual década. Tal cenário agravará ainda mais a aguda crise socioambiental em que estamos imersos, com a ampliação de desigualdades sociais, degradação de territórios, fazendo desaparecer espécies animais e vegetais. A humanidade poderá ter de conviver com ambientes inóspitos que ameaçam a continuidade da vida".
Além disso, com a aceleração do desmatamento e queimadas, o Brasil está contaminando a atmosfera com aproximadamente 2,17 milhões de toneladas de dióxido de carbono, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), também apresentados na declaração.
Outra inquietação é em relação aos povos tradicionais e seus territórios, de que "estejam alijados dos espaços e processos de reflexão e deliberação sobre suas vidas". Esse tema também pautou o vídeo produzido pelos bispos da Amazônia, que pediram pressão sobre o governo brasileiro para "que se comprometa efetivamente com a defesa dos povos originários, das florestas e das águas”.
Também a Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA e a Rede Eclesial Amazônica – REPAM (entidades que representam a Igreja Católica no território amazônico) se manifestaram em razão da Conferência do Clima. “Não podemos esperar mais, queremos ter resultados palpáveis e que conduzam a mudanças de rumo de uma vez por todas”.
"Diante duma crise climática não se pode tolerar privilégios de alguns acima do bem comum. Não existe o direito de manter certa comodidade diante da dor e da pobreza dos outros. Esta COP26 é nossa última esperança para parar o aquecimento global a 1,5°C”, apelaram os organismos.
Santa Sé: preencher lacunas
Nesta sexta-feira (12), último dia da Conferência, a Santa Sé divulgou um comunicado sobre a participação no evento. O documento destaca o compromisso dos Estados a limitar o aumento da temperatura, mas reitera a necessidade de "chegar a um acordo sobre um roteiro claro para preencher estas lacunas em breve, com os países desenvolvidos assumindo a liderança".
"Durante essas duas semanas, várias 'lacunas' surgiram nas áreas de mitigação, adaptação e financiamento. Os recursos disponibilizados para estes três aspectos, fundamentais para a concretização dos objetivos do Acordo de Paris, deverão ser reforçados e renovados para a concretização desses objetivos. A Santa Sé espera que a COP26 possa chegar a um acordo sobre um roteiro claro para fechar essas lacunas em breve, com os países desenvolvidos assumindo a liderança".
A delegação da Santa Sé espera que as decisões finais da COP26 "sejam inspiradas por um genuíno sentido de responsabilidade para com as gerações presentes e futuras, bem como o cuidado com nossa casa comum, e que essas decisões possam responder verdadeiramente ao grito da Terra e ao grito dos pobres".
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