Não conseguir emprego dói. Há alternativas?
Fortalecer economias que colocam no centro a pessoa e o meio ambiente pode ser a resposta para mudar as regras do atual jogo econômico e sua perspectiva predatória
Ele saiu da zona rural de Petrolina (PE), rumou a Recife, em busca de um emprego formal. Deixou no interior, a esposa e os três filhos. O bebê mais novo tem hoje dois meses de vida. Há quatro meses, Leo Inácio, 28 anos – nome fictício, pois “não quero me expor”, disse-me num tom de triste e tenso –, está na capital pernambucana em busca de emprego. Foi acolhido por um amigo, e segue a saga por um trabalho.
Assim como ele, mais 14,4 milhões de pessoas buscam por um emprego no Brasil. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou no último dia 31 que a taxa de desemprego chegou a 14,1% no segundo trimestre, até junho, de 14,6% nos três meses até maio. Houve uma queda em relação à taxa de 14,7% se comparada com a do primeiro trimestre deste ano, mas essa ainda ficou acima dos 13,3% no mesmo período de 2020. Esses dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).
As pessoas trabalhadoras com baixa escolaridade e a juventude são as mais afetadas, segundo a pesquisa, pois o desemprego para a faixa etária de 18 a 24 anos foi de 29,5%; já para o grupo dos 25 a 39 anos foi de 13,8%. Leo está entre esse grupo, pois traz consigo o desafio de não ter tido a oportunidade de ser alfabetizado.
“Sem o emprego a gente não vive, a gente não constrói, a gente não tem vida para falar a verdade. A gente precisa muito de um emprego; a gente dá o máximo da gente, corre atrás, passa por cima das necessidades da gente, mas não tem a oportunidade”, conta Leo, que lamenta não poder arcar com a responsabilidade de ser um pai de família que ajude no sustento.
Hoje, no Brasil, são 14,4 milhões de pessoas desempregadas, que vêm procurando empregos nos últimos 30 dias. Outras 7,4 milhões estão subocupadas, ou seja, pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, contudo, gostariam de trabalhar mais. São 10,2 milhões de pessoas na força de trabalho potencial, que poderiam trabalhar, mas não trabalham. Esse grupo inclui 5,6 milhões de desalentados, que desistiram de procurar emprego. Há ainda mais 4,6 milhões que podem trabalhar, mas que não têm disponibilidade por algum motivo, como mulheres que deixam o emprego para cuidar os filhos. Para as mulheres, a taxa de desemprego ficou em 17,1%, e para os homens 11,7%.
A jornalista Amanda Pascoal, teve seu último emprego com carteira assinada, em 2013, quando ainda estava na faculdade. “Desde então, quando saí desse trabalho não consegui mais nada”, diz. Amanda diz está muito difícil entrar no mercado de trabalho. Já participou de vários processos seletivos e, segundo ela, “nada feito”. Ao tornar-se mãe, Amanda relata que sentiu maior dificuldade ainda. Procurou se atualizar, mas até agora não conseguiu o tão sonhado emprego.
Trabalho informal
Segundo dados do IBGE, o trabalho por conta própria bateu recorde no Brasil: alcançou 24,8 milhões de pessoas Isso equivale a 28,3% de brasileiros ocupados. A cada 10 novos postos de trabalho, originados no último ano, 7 foram criados informalmente.
Veronica Leucir, de Colatina (ES), faz parte do empreendimento econômico solidário “Tons e Cores”, que trabalha com bonecas de pano e outro itens a base de tecido. Para ela, o movimento da Economia Popular Solidária (EPS), transforma a vida de pessoas, pois é um trabalho coletivo e solidário. Veronica lembra, que na EPS “o eixo principal é o ser humano e se caracteriza por relações de colaboração solidária onde a pessoa é o sujeito e a finalidade da atividade econômica”, conta Verônica.
Economia solidária: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”.
Para isso, nesse trabalho coletivo, os grupos de EPS colatinense lutaram para criação da lei municipal de fomento à economia solidária. Projeto que garantiu a sociedade civil organizada o direito ao trabalho associativo e solidário. Essa atividade econômica apresenta produtos, culturais, artesanais, agrícolas e agroecológicos que promovem a integração entre o campo e cidade e os processos formativos favorecem o crescimento intelectual dos participantes e a solidariedade entre culturas.
A economia solidária
No livro O fortalecimento da Economia Solidária no Brasil, irmã Lourdes Dill, ex-vice-presidente da Cáritas Brasileira e coordenadora do projeto Cooesperança, em Santa Maria (RS), conta como nasceu a economia solidária. “A economia popular solidária (EPS) nasceu no coração da Cáritas a partir dos Projetos Alternativos Comunitários (Pacs), incentivados pela Igreja Católica no Brasil. O trabalho era coletivo. Os grupos recebiam formações e incentivos financeiros para a produção e vendiam seus produtos nas feiras, ajudavam-se coletivamente. Com o tempo, começamos a acessar recursos públicos para fortalecer os empreendimentos e iniciativas de EPS”, conta.
Segundo a religiosa, a economia popular solidária tem como princípio a preservação ambiental e, por conseguinte, a produção, comercialização e troca em vista do ser humano e da natureza, ao invés de colocar o ser humano e os bens naturais subordinados à produção econômica, ao lucro, mediante a exploração ambiental e da mão de obra.
Em relação às pessoas envolvidas nos empreendimentos solidários, irmã Lourdes lembra o provérbio africano: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”.
Hoje, no Brasil, são realizadas duas grandes feiras de economia solidária, uma em Crateús (CE) e a outra em Santa Maria (RS), esta última de âmbito internacional. Essas feiras reúnem milhares de pessoas que fazem parte dos empreendimentos solidários.
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