Hoje é dia daquele que corre atrás da notícia
Dedicada nacionalmente à figura do repórter, a data de 16 de fevereiro tem objetivo de valorizar o trabalho dessa função vital ao jornalismo. Neste dia, lembramos em particular daqueles que atuam na cobertura jornalística de fatos da Igreja
Todo repórter é jornalista, mas nem todo jornalista é repórter. Glamourizada pela própria mídia – em especial pelo cinema – a figura do repórter se tornou o que muitos consideram o “filé mignon” do jornalismo, já que seu papel é, por vezes e literalmente, correr atrás da notícia. De fato, cabe ao repórter pesquisar e checar informações, entrevistar fontes, investigar os fatos e apresentá-los ao público de forma clara e objetiva, qualquer que seja o veículo para o qual trabalha. É, pois, esse tipo de jornalista que garante o que de mais importante os veículos de imprensa divulgam em seu noticiário e, possivelmente, dá conta de uma das tarefas que melhor correspondem ao compromisso social que o jornalismo tem com a coletividade.
Curiosamente, não se sabe por qual razão a data de 16 de fevereiro foi escolhida no Brasil para se festejar o Dia do Repórter. Parece que vai ser preciso um trabalho de reportagem para investigar isso... De qualquer modo, ainda que haja – como acontece em toda profissão – muitos repórteres em busca da fama, do reconhecimento público, para cujo sucesso são capazes de ultrapassar limites éticos, o trabalho cotidiano desse profissional é sempre intenso, exigente e raramente reconhecido como se deve, a começar pelas empresas de comunicação para as quais prestam serviço. Baixos salários, excesso de pautas a cobrir diariamente, precarização das condições de trabalho estão, com frequência, entre os itens da lista de obstáculos a serem superados por quem quer viver de fazer reportagem.
Por outro lado, há estudos antropológicos sobre a figura do jornalista e, nesse caso, notadamente do repórter, que atestam traços peculiares comuns àqueles que exercem essa profissão. É o caso da tendência de querer ir a fundo na cobertura jornalística de temas e acontecimentos, numa busca continua pela verdade. Isso, com efeito, já colocou muitos repórteres em situações constrangedores ou de risco, a ponto de muitos perderem a vida no exercício da profissão.
Na contramão desse esforço, além das limitações impostas pelo mercado de trabalho como algumas já citadas neste texto, há limites inerentes à natureza da prática jornalística: a pressão dos prazos, a falta de espaço ou de tempo para a veiculação das matérias, a necessidade de “trocar em miúdos” argumentos às vezes complexos e ter que lidar com situações difíceis. Mas, o que parece ser outro traço marcante em muitos repórteres é que, apesar de ter que conviver com isso tudo, um bom profissional da área não costuma se intimidar diante dos limites e exerce sua atividade profissional com paixão.
A jornalista e professora Regina da Luz Vieira conta que exerceu a função de repórter durante 9 anos. Natural do Rio de Janeiro, foi no seu estado natal que atuou como membro da equipe de reportagem de diferentes jornais. “O repórter não tem sábado, domingo ou feriado; se está de plantão faz de tudo um pouco”, conta Vieira. Ela lembra que foi na cidade de Campo de Goitacazes onde passou pela experiência mais difícil no exercício dessa função: teve que cobrir um acidente envolvendo avião e carro, em que colegas de trabalho morreram. “Fiquei transtornada; estava no início de carreira”. De plantão, ela diz que com a parceria de um fotojornalista experiente, conseguiram fazer uma ótima cobertura. Além disso, foi a única vez que viu repórteres de diferentes veículos deixarem de lado a competição pelo “furo jornalístico” para atuarem em colaboração. “Ali não havia ‘furo’, mas a dor por tantos colegas cujas vidas foram ceifadas”.
Em nome da fé
Essa sensibilidade pela humanização dos relatos jornalísticos, trágicos ou não, costuma ser um elemento valorizado pela ética jornalística, assim como se costuma se ensinar nos cursos de jornalismo. É também uma perspectiva bastante valorizada por jornalistas experientes para quem contar uma boa história implica descrever as pessoas e as situações que estão vivendo ou pelas quais passaram com equilibrada sensibilidade. Muito da verdade dos fatos está atrelada a isso, garantem esses profissionais.
Já para os repórteres que atuam a serviço da Igreja, seja cobrindo fatos em geral, seja divulgando fatos especificamente religiosos, o olhar sensível à pessoa é uma condição indiscutível para uma boa matéria. O jovem jornalista Gustavo Monteiro, repórter colaborador da revista Cidade Nova, afirma que a comunicação católica teria a função de divulgar significados e esperança, demandas que correspondem ao sentido da vida das pessoas. “Esperança aqui não é fuga da realidade, mas o poder de estar dentro da realidade e imaginar caminhos diferentes, que abrem estradas para mundos novos”, argumenta Monteiro.
A correspondente da Rede Vida de Televisão no Vaticano, Anna Ferreira, parece compartilhar dessa perspectiva. Ao definir o trabalho como repórter a serviço de um veículo de inspiração católica, ela diz que esse “é uma missão”, ao mesmo tempo que considera um serviço como outros que existem no âmbito da Igreja. A jornalista – que cobriu as viagens do papa Francisco ao Brasil, à Fátima (em Portugal) e à Polônia por ocasião da Jornada Mundial da Juventude – revela que na abordagem cristã que busca dar à sua atuação como repórter, sensibilidade à verdade e à vida caminham juntas. Ela dá um exemplo: “Cobrindo o Vaticano eu tenho a imensa alegria de exaltar as palavras do Papa, fazer com que mais pessoas possam ouvir suas reflexões sobre o Evangelho de Cristo, seus conselhos de vida e pensamentos sobre a atualidade”. E completa: “O nosso compromisso é com a verdade. É trabalhar para que a igreja também possa identificar seus erros e ter a oportunidade de corrigi-los. Como exemplo cito a questão dos abusos contra menores. O papel da imprensa foi de grande importância para que a Igreja pudesse promover esta reforma em curso”.
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