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“Sentes Compaixão?”: o papel da Igreja junto à população empobrecida

A CNBB, seus Organismos e Pastorais Sociais, há cinco anos, realizam a Jornada Mundial dos Pobres, contudo, a ação da Igreja junto a população empobrecida é milenar

Há 3 anos - por Osnilda Lima
No sentido horário, Alessandra Miranda, Fabrícia Paes e Frei Luiz Carlos Susin
No sentido horário, Alessandra Miranda, Fabrícia Paes e Frei Luiz Carlos Susin (foto por Agência SIGNIS)

“Pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente [...]”. Segundo o educador social, músico, cantor e compositor Edson Franco, o texto do decreto 7.053 [de 23 de dezembro de 2009], onde encontramos esse trecho, não saiu da cabeça de algumas pessoas ou de várias mãos. “Eu sou essa pessoa de que o decreto fala. É a vida das pessoas que vivem em situação de rua”, disse.

Edson, natural de Ipatinga, interior de Minas Gerais, chegou à capital Belo Horizonte para trabalhar, mas por uma série de contratempos na vida, foi parar nas ruas. “Meus amigos viviam me chamando para eu ir participar da Pastoral, mas eu dizia; ‘não tô a fim de rezar, não tô a fim de ir na igreja, o que eu vou caçar lá”, lembra Edson. Contudo, ele recorda que um dia dois amigos o convenceram a ir para uma atividade realizada pela Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte. “Teria uma limpeza e no final a gente ganharia o almoço. Isso foi em 2009. Há dois anos eu estava em situação de rua. Comecei a participar, mas sem me envolver muito. Eu estava destruído, sem perspectiva, alcoolizado, 36 quilos mais magro, muito inchado,” conta.

Em 2011, Edson foi vencido pela equipe da Pastoral, conseguiu se fortalecer, ao longo do processo, por meio das rodas de conversas, filmes, pipocas e da arte e, aos poucos, foi saindo deixando as ruas. Hoje, ele é uma das lideranças nacionais na militância do Movimento Nacional da População de Rua.

Assim como Edson – com sua história, pai de uma filha e um filho –, há milhões de vidas em extrema vulnerabilidade, vivendo em situação de rua. Com a pandemia, essa realidade tornou-se ainda mais letal, a ausência de políticas públicas eficazes e a dificuldade em acessar direitos básicos: como emprego e moradia, devido à queda de renda, milhares de pessoas somam-se ao contingente de população em situação de rua.

Em audiência pública, realizada em outubro deste ano, promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), com foco na população em situação da de rua, o coordenador do Núcleo de População em Situação de Rua da Fiocruz, Marcelo Pedra Machado, informou que uma estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de março de 2020, assinalou quase 222 mil brasileiros nessa condição. Porém, lembrou o pesquisador, que essa estimativa foi realizada antes da pandemia. Em 2008, o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou cerca de 50 mil pessoas em situação de rua. Já o Serviço Único de Saúde (SUS), em dezembro de 2020, registrou 155 mil atendimentos no programa Consultório da Rua [ação voltada para a população de rua]. Esse número representa três vezes mais que o registrado em 2019.

Ainda, em 2020, 116,8 milhões de pessoas no Brasil passaram por algum grau de insegurança alimentar, o que corresponde a 55,2% dos domicílios, esses dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

Há sinais de esperança

A situação, por certo, seria muito pior se não houvesse ações da sociedade civil e de Igrejas em favor das populações vulnerabilizadas. E, nesse sentido, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora, com seus organismos e Pastorais Sociais, realiza a Jornada Mundial dos Pobres, que neste ano está em sua 5ª edição e traz como tema: “Sentes compaixão?”, um convite a não ser indiferente diante do sofrimento das pessoas em situação de vulnerabilidade e à crescente pobreza socioeconômica que assola mais 51,9 milhões de pessoas. O lema bíblico, que inspira a Jornada, vem da mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no próximo dia 14 de novembro: “Sempre tereis pobres entre vós”, extraído do Evangelho de São Mateus 14, 7.

A Jornada nasceu com a instituição do Dia Mundial dos Pobres, celebração no calendário católico, criada pelo papa Francisco no final do Jubileu da Misericórdia, realizado entre 2015 e 2016. No documento que encerrou o ano, Misericordia et Misera [Misericórdia e Miséria], o papa pediu que os católicos comemorassem o dia especial, um domingo antes da festa litúrgica de Cristo Rei do Universo.

Assim como Edson, milhares de pessoas são fortalecidas por ações da Igreja, e conseguem sair da situação de miséria, pobreza extrema, isso foi evidenciado no Seminário Nacional da Jornada Mundial dos Pobres, realizado ontem (5), no formato online e transmitido pelas redes sociais da CNBB. No evento foram apresentadas diversas experiências exitosas em favor da população em situação de rua, população encarcerada, migrantes em situação de vulnerabilidade, pessoas empobrecidas e mulheres marginalizadas.

Além das experiências, o seminário contou a reflexão do teólogo capuchinho frei Luiz Carlos Susin e da presidente da Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil (CRB), irmã Maria Inês Ribeiro. Animaram e colaboram na reflexão, a partir da música e testemunho: Raquel Passos, Artista da Caminhada e professora de música e o Edson Franco, cantor e compositor, animador social e membro do Movimento Nacional da População em situação de rua. Você pode acompanhar o debate realizado no seminário aqui: [https://m.facebook.com/agenciasignis/?ref=bookmarks]

A mobilização da JMP será encerrada no dia 13 de novembro, com a missa na Capela Nossa Senhora Aparecida, na sede da CNBB, em Brasília (DF), e transmitida ao vivo pelas Tvs de inspiração Católicas. Já o 14 de novembro, Dia Mundial dos Pobres, o convite é para que todas as comunidades celebrem, Brasil afora a Dia Mundial dos Pobres. Também, no dia 14, será publicado o Manifesto pela Vida, fruto no processo vivido no decorrer da Jornada deste ano que teve seu inicio no dia 14 de setembro.

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