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V Jornada Mundial dos Pobres, um convite a escutar as pessoas empobrecidas

A CNBB, seus Organismos e as Pastorais Sociais e lançaram no último dia 14, a V Jornada Mundial dos Pobres

Há 3 anos - por Osnilda Lima
V Jornada Mundial dos Pobres, um convite a escutar as pessoas empobrecidas

Jesus estava na casa de Simão, o leproso, em Betânia. Eis que uma mulher anônima irrompe na sala, contra todas a normas vigentes, oferece um frasco inteiro de perfume. Quebrando-o derrama na cabeça de Jesus. Algumas pessoas que estavam ali, disseram:

 – Para que esse desperdício de perfume? O perfume poderia ser vendido por trezentos denários, para dá-los aos pobres.

Mas Jesus disse:

– Deixai-a. Por que a aborreceis? Ela fez uma boa obra para comigo. Pobres sempre tereis entre vós e podeis socorrê-los quando quiserdes; a mim nem sempre tereis (cf. Mc 14, 3-7).

Com essa fala Jesus marginaliza os pobres e põe-se do lado da mulher insultada? Ou, se as pessoas que estavam a insultar a anônima tivessem a sua atitude, os pobres receberiam mais ajudas?

E é justamente com essa afirmação de Jesus: “Pobres sempre tereis entre vós”, que papa Francisco interpela a comunidade católica a vivenciar o “V Dia Mundial dos Pobres”, a ser celebrado no próximo dia 14 de novembro. No Brasil, adotou-se Jornada Mundial dos Pobres (JMP), uma ação processual.

Com isso, na manhã dessa terça-feira (14) foi lançada pela Igreja do Brasil o processo da V Jornada Mundial dos Pobres, que segue até novembro. Participaram do evento on-line cerca de 340 pessoas. Além da participação de representantes das instituições que estão a organizar a JMP 2021, partilharam parte de suas histórias, vivenciadas em momentos de vulnerabilidade, Maria Luísa Pereira, sobrevivente do cárcere e Samuel Rodrigues, membro do Movimento Nacional da População de Rua e ativista dos Direitos Humanos.

 

 "A Bíblia se torna nosso alicerce para a gente continuar em frente, nos dá força para a gente sair de lá, continuar nossas vidas, como nossas famílias” (Maria Luisa, boliviana, sobrevivente do cárcere)

 

Maria Luísa, natural da Bolívia, ficou encarcerada no Brasil por cerca de um ano sete meses. Luísa conta que ficou todo esse tempo no cárcere sem poder ter contato com a família, que permaneceu na Bolívia. Ela ressaltou a importância da JMP em colocar luz sobre a realidade das mulheres encarceradas. “A gente é muito esquecida lá dentro. A gente é abandonada por nossas famílias, por nossos parceiros, a gente acaba largando para trás, filhos. Eu tenho um filho de oito anos e que precisa de ajuda; ele faz perguntas. Ele pergunta onde eu estava. Porque ele não sabia se eu estava viva. Se era mentira o que minha família contava para ele ou não. Isso me machuca muito. Eu não quero que outras pessoas passem por isso”, revela com a voz embargada Maria Luísa.

Luiza também aponta em sua fala as necessidades que passou no cárcere a precariedade acesso à saúde, de alimento. “Mas não e só pobreza de alimento; há pobreza de falta de uma palavra. O nosso refúgio lá dentro é a Bíblia. Isso nos dá força para gozar da misericórdia de Deus, saber que é o único que pode perdoar tudo o que a gente fez, os nossos erros. E que Ele perdoa! A Bíblia se torna nosso alicerce para a gente continuar em frente, nos dá força para a gente sair de lá, continuar nossas vidas, como nossas famílias”, diz emocionada.

De Belo Horizonte (MG), Samuel Rodrigues contou sua experiência de viver em situação de rua. “Falo de uma galera muito sofrida, muito machucada, muito invisibilizada e que ficou completamente dispersa durante a pandemia, quando a ordem do dia foi ‘fiquemos em casa! Não saiamos de casa!’. E essa população sem casa. E mais uma vez a Igreja estava lá. As pastorais se fizeram presentes junto ao povo da rua”, conta Samuel.

Samuel revela que sonha, em um dia, não ter mais Pastoral do Povo de Rua, porque todas as pessoas terão moradia. “A moradia vai se tornar o ‘lugar sagrado’, como diz a constituição, o ‘asilo inviolável’”, lembra Rodrigues.

Ele conta que a Igreja que saiu de dentro da Igreja, a Pastoral do Povo de Rua, que o ajudou a sair da situação de rua. “Com uma garrafa de café e um violão, salmodiando e cantando com as irmãs, acabaram encontrando nesse lugar chamado rua, inóspito, impróprio para morar, mas deram a condição de erguer a cabeça. A Pastoral, naquele momento, me dava mais do que o pão com mortadela; ela me dava a oportunidade de buscar o resgate da minha dignidade. E isso eu pude receber olhando no olho de quem me entregava”, lembra.

 

"A Pastoral [do Povo de Rua], naquele momento, me dava mais do que o pão com mortadela; ela me dava a oportunidade de buscar o resgate da minha dignidade. E isso eu pude receber olhando no olho de quem me entregava” (Samuel Rodrigues, membro do Movimento Nacional da População de Rua)

 

Samuel ressalta também a importância de a Igreja ajudar na incidência em politicas publicas para favorecer a população em situação de rua. “É preciso fazer valer aquilo que os pobres estão pedindo na periferia. As pessoas sentem frio na rua; muitas pessoas de bom coração ofertam marmitas, quando o sujeito diz que está com frio. E, muitas vezes, as pessoas sentem fome nas ruas, muitas pessoas de bom coração ofertam cobertores, a quem está com fome. Então, onde não há o diálogo, onde não há sintonia, fica difícil de ser solidário e de fazer pelo pobre”, indica Samuel.

“Ter compaixão é saber escutar, é estar disposto a parar a caravana. Por que às vezes vamos conduzindo, conduzindo e o companheiro que está à margem, não consegue acompanhar”, Samuel afirma, fazendo referência aos movimentos populares e as pastorais sociais, que não devem deixar ninguém para trás.

Ao finalizar, o momento da celebração, desde o Ceará, no interior de Orós, o cantor, compositor, poeta e cuidador Zé Vicente, fez um momento de oração, quando ofereceu flores com o “pedido do perfume utopia eucarística de Jesus”. E pediu: “Que o pobre esteja no centro da Igreja, no centro do orçamento federal e no centro de nossa paixão de ser cidadão e cristão de nossa hora da humanidade”, finalizou Zé Vicente.

A V Jornada Mundial dos Pobres será marcada no Brasil, por uma série de ações que iniciou com lançamento, dia 14 de setembro, e segue até o Dia Mundial dos Pobres, dia 14 de novembro. Confira o calendário:

 

Ações Nacionais da JMP2021

14 de setembro – Lançamento da V Jornada Mundial dos Pobres
Horário:
Às 10h

Onde: Redes Sociais CNBB e entidades parceiras

 

14 de outubro – Seminário Nacional de formação JMP2021

Horário: Das 9h30 às 12h30

Onde: Plataforma Zoom, participação mediante inscrição

  

7 a 14 de novembro – Semana Nacional do gesto concreto da JMP 2021

O convite é fortalecer as ações transformadora em curso

  • Ação Solidária Emergencial É Tempo de Cuidar
  • 6ª Semana Social Brasileira
  • Pacto pela Vida e pelo Brasil
  • Com respeito às medidas sanitárias impostas, devido à covid-19, ir ao encontro dos empobrecidos. Escutar, acolher, compreender como se sentem, o que passam e quais os desejos eminentes que trazem no coração.

 

13 de novembro – Celebração Eucarística
Horário: Às 7h
Onde: Capela Nossa Senhora Aparecida, na sede da CNBB, em Brasília (DF) transmitida ao vivo pelas Tvs Católicas

 

14 de novembro – Dia Mundial dos Pobres

Lançamento do Manifesto pela Vida

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