Consciência crítica
Dom Joaquim Mol fala sobre os impactos da covid-19, fake news e fundamentalismos religiosos
Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães é mineiro de Ponte Nova, na Zona da Mata. Filho do senhor José e da dona Edna, foi ordenado bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) em 2006 e, entre tantas de suas funções, preside a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde 2019.
A vocação para a educação aparece antes mesmo de uma consulta a seu currículo salesiano. Durante a entrevista feita a distância, separados por uma pandemia, quilômetros e uma tela de computador, o bispo ensinou, ponderou, denunciou, animou, profetizou.
Como bom mineiro, falou manso, mas não deixou de responder nenhum tema sensível à sociedade brasileira, ao povo católico. Com os pés na realidade que nos atravessa, manifestou-se com energia contra as desigualdades sociais, a apropriação de discursos religiosos e fundamentalismos, mas não só. Acompanhe a entrevista e descubra mais sobre o que pensa e como orienta dom Joaquim Mol sobre o Brasil e a Igreja Católica de 2021.
Dom Mol, estudos apontam a dificuldade do brasileiro em distinguir fato de opinião, comprovação científica de “achismos”, o que nos leva à banalização, relativização da verdade e até do cuidado com a vida. Os impactos parecem, até o momento, irreversíveis. Essa realidade tem atacado também a ação da Igreja Católica no Brasil? De que modo?
Sim, tem também impactado a ação da Igreja no Brasil sem dúvida nenhuma. Primeiro, porque o fato de muitas pessoas não distinguirem a notícia verdadeira da mentira faz com que elas acolham qualquer notícia que é dada como se fosse a verdade e escolham o que confirmam seu pensamento [...]
Tudo isso impacta porque muitas pessoas terão uma visão equivocada da realidade. Por exemplo, essa questão da pandemia que a gente está vivendo hoje. Há muitas pessoas que têm uma visão que não corresponde à realidade: tem gente que passa a acreditar em terra plana. O ambiente dessa dificuldade de não distinguir o fato da opinião, sem uma comprovação científica e se deixar levar por muitos achismos, está muito relacionado à polarização e à intolerância e essa dificuldade de fato impacta na ação da Igreja.
A negação da ciência no país parece ser maior que em outros lugares. É um profundo empobrecimento e isso faz com que o país caminhe para trás, e isso não é bom. Nós estamos vivendo um momento de desinstitucionalização por causa dos achismos. É como se a gente mirasse para derrubar a ciência, as igrejas, o STF [Supremo Tribunal Federal]. Se eu não estou satisfeito com o STF, vamos fazer um trabalho para melhorar os juízes que lá estão.
Entendemos desde pequenos que ser Igreja é ser comunidade, povo de Deus. Como a pandemia da Covid-19 impactou esse ser Igreja? Diante de todas as limitações impostas pelo isolamento social, é possível enxergar ganhos, aprendizados? A adaptação ao mundo digital poderá ser uma nova realidade na dinâmica desse ser Igreja?
Seu pressuposto é correto. Ser Igreja é ser comunidade e se a gente não entende Igreja como comunidade, a resposta vai para outro caminho. A gente define a Igreja como povo de Deus, como define o [Concílio] Vaticano II, mas não é um povo de Deus solto por aí. Vou usar uma expressão que todo mundo vai entender: povo de Deus não é gado. Povo de Deus está em comunidade em eclésia, em assembleia. Supõe relações, vínculos, e isso se dá na comunidade.
A Covid-19 impactou esse modo de ser Igreja, mas a comunidade procurou encontrar uma forma para não se deixar morrer no tempo da doença. Veio a imposição do afastamento, depois veio do isolamento social; aí as pessoas começaram a conversar pelo celular, computador, pela janela, e a comunidade encontrou uma solução de pouca gente sair por causa da Covid e sair recolhendo alimentos pra aqueles que estavam com fome, que perderam o emprego. Então, a comunidade passou a se reinventar até para celebrar a Eucaristia: transmissão da missa, da pregação, da oração, do terço, do círculo bíblico. A covid veio e impactou a comunidade, mas essa passou a se reinventar, a se reorganizar de um jeito diferente. Descobrimos que podemos ser comunidade na rua, sendo vizinhança, não só quando a gente se encontra dentro da igreja. Aprendemos muito. Gente simples mexendo com tecnologias da comunicação. Eu fico encantado com isso.
Pensando em comunicação, o senhor acredita que os ataques que parte da imprensa brasileira vem recebendo da maior autoridade do país podem trazer consequências à nossa democracia?
Sim, e é grave, porque há vários sinais evidentes de que o presidente do Brasil [Jair Bolsonaro] se define pela truculência. Ele é uma pessoa truculenta. Ele estimula a polarização como que dizendo ‘vai lá, bate também’. Não é só o desequilíbrio emocional que é evidente, mas o desequilíbrio relacional, ou seja, ele só se cerca de iguais e não consegue perceber quem pensa diferente. Nós temos aqui um problema bastante acentuado, bastante grave, exatamente porque o nosso presidente usa palavras chulas, é deseducado, prepotente. É um homem de uma nota só. Repete as mesmas coisas todo dia, toda hora e joga o tempo todo colocando as pessoas em confronto. Ele não coloca as pessoas em harmonia, em diálogo nas suas diferenças, mas em confronto. O que ele supostamente defende como o valor da família, de liberdade, de valores não é propriedade dele, antes é propriedade da comunidade, do povo brasileiro e assim por diante. Nós amamos ser família, e nós gostamos tanto de ser família de formas diferentes que nós expandimos nossas famílias dentro da comunidade. Formamos a família-comunidade. Essas realidades são de fato do povo brasileiro, e de várias outras instituições, principalmente da Igreja. Ele pretende e já pratica um regime marcadamente autoritário de busca de eliminação de quem pensa diferente, daqueles que agem e vivem de uma forma diferente. A democracia está sim ameaçada. Estamos vivendo realmente um momento perigoso.
A mídia convencional tem sido alvo de controvérsia, especialmente na cobertura de fatos políticos deste momento no País, segundo os diferentes posicionamentos político-ideológicos em confronto hoje. Ao mesmo tempo, ela é fundamental para a sobrevivência da democracia. O que senhor aconselha ou sugere para a comunidade na postura em relação a essa mídia? E dentro desse contexto, qual pode ser a contribuição da imprensa de inspiração cristã e católica nesse sentido?
Eu gosto de chamar a mídia tradicional de mídia comercial, porque ela funciona a partir de financiamento, da negociação com patrocinadores. É importante dizer isso porque não existe mídia isenta e neutra. [...] Nem gosto de chamá-las de grande mídia, porque tem muita mídia pequena que é grande pelo compromisso com a verdade, com a dignidade das pessoas. Então, feita essa observação, uma notícia é dada baseada nesta ideologia comercial, e há notícias que vão para o ar porque são sustentadas nisso e há notícias que não vão ao ar porque contrariam o interesse comercial.
Precisamos trabalhar muito para diversificar as mídias, os meios de comunicação, para democratizar a comunicação, que não pode ficar associada aos pequenos grupos que controlam o poder econômico ou que controlam o poder político. É preciso ter sempre uma postura crítica e esse é um problema em nosso país. Uma pesquisa já de uns dez anos apresentou que o povo brasileiro não se interessa pela própria história, e com isso desmotiva a postura crítica. Para termos uma postura crítica, precisamos de uma educação efetiva, de qualidade. E nesse sentido, não frequentar a escola como defendem no homeschooling, é um problema grave, sério, porque cria pessoas dentro daquele eixo estreito da visão de que está lá e não foi preparado para educar como a escola educa. Educa como pai e mãe, mas e o papel da escola? Por isso a necessidade da democratização dos meios de comunicação e de uma postura crítica, a visão que olha e começa a retalhar perguntado o quê, quem, como foi? Ao invés de ver, assistir, eu começo a me perguntar. Perguntar é sinal de uma postura crítica.
A imprensa e os demais meios de comunicação de inspiração católica devem zelar pela verdade dos fatos, pela interpretação a partir dos valores expressos na Doutrina Social da Igreja e principalmente no Evangelho. Se os veículos católicos fizerem isso, eles mesmos poderão ser mais críticos e formar para uma visão crítica do mundo e da sociedade.
Qual o papel dos agentes da Pastoral da Comunicação nesse contexto? Os objetivos da Pastoral se limitam à comunicação interna das comunidades ou devem extrapolar seus muros? Combater as fake news pode, deve ser um dos trabalhos dos agentes da Pastoral da Comunicação?
A Pastoral da Comunicação é muito abrangente: por ela entende-se que a evangelização é feita pela comunicação, não é a reunião de pessoas que têm habilidades tecnológicas pura e simplesmente. A pastoral tem um objetivo fundamental que é evangelizar usando intensamente os processos comunicacionais, tanto a habilidade pessoal para falar e expor um pensamento quanto aquelas próprias das tecnologias. A comunicação não é instrumento, é estratégia. Hoje, não há como evangelizar sem a comunicação. É mais do que usar uma ferramenta, é fazer da ferramenta o veículo que conduz a mensagem do Evangelho, que conduz a mensagem de Jesus, por isso que ela deve ser sempre autocrítica.
A Pastoral da Comunicação tem de ser autocrítica para poder ser aberta à avaliação externa, é própria dela, da Pastoral, não ficar atrás ou em cima dos muros. Uma boa Pastoral da Comunicação deve extrapolar os muros, colocar-se na posição que é indicada pela Doutrina Social da Igreja e pelo Evangelho. A Comunicação Cristã Católica tem lado, ao lado de Jesus, o lado que Ele ocupou, do lado dos pobres, dos excluídos, da justiça, da paz, do respeito, da dignidade humana, esse é o lado da comunicação católica, o lado da Pastoral da Comunicação.
Você me pergunta se a Pascom deve combater fake news? A Pascom que não combate fake news não é Pascom, não merece o nome. Não é só combater fake News; ela não pode compartilhar desavisadamente como se não soubesse das coisas. Tem que ter o processo de checagem. Tem que denunciar, assumir o lado que está. É algo que envolve de fato uma grande vigilância.
Faz parte da Pastoral da Comunicação todo mundo que por meio da comunicação quer contribuir para o anúncio da boa nova do Reino de Deus. Se você faz isso, você faz parte da pastoral.
“A desigualdade social é um pecado sob o ponto de vista da fé. Não é possível que uma pessoa tenha tanto e o outro não tenha nada, nem o necessário para comer e beber, não tem água potável. Isso estoura, arrebenta qualquer lógica. Isso só se encontra dentro da lógica do neoliberalismo, que é o que preside a cabeça dos gestores do campo econômico no Brasil hoje.”
Diante do cenário político que atravessamos, como contestação da dinâmica do processo eleitoral, desobediência de orientações sanitárias, defesa pelo livre armamento da sociedade, ataques organizados de mineradoras a áreas indígenas, o senhor vê riscos de conflitos armados no país? Risco de golpe militar?
Essa situação da dinâmica do processo eleitoral e da possibilidade de voltar não é porque não se confia no sistema eleitoral e na urna, não se confia em si mesmo. O que está em discussão é de fato o receio de uma efetiva derrota. Quando o governo ataca as autoridades sanitárias, que se deixam conduzir pela ciência de uma forma adequada, é porque está percebendo que a ciência tem um poder contra ele, e contra essa maneira de governar; então, busca destruir o poder da ciência, destruir o voto eletrônico, destruir os indígenas, porque eles estão reagindo, e isso ameaça o governo.
Acho que o risco maior da violência e, portanto, de conflitos armados, está relacionado às milícias. [...] Ao invés de confiar mais neste tipo de governança do país, precisamos confiar na responsabilidade das Forças Armadas Brasileiras para que elas não entrem nesse jogo. Acreditar que elas de fato não vão entrar neste caminho insano, que seguramente não é a vontade do povo brasileiro, a não ser de um grupo pequeno que não viveu o que é uma ditadura militar. Uma ditadura militar é uma anomalia, uma excrescência, um tumor maligno dos mais agressivos. E para evitar este caminho abominável, nós precisamos de fato reunir as pessoas lúcidas, os democratas de verdade, os idealistas e sonhadores, os ativistas de todos os segmentos da sociedade brasileira para que se posicionem a favor da democracia.
Precisamos substituir as pessoas que representam um perigo para a democracia. Precisamos substituir o governo federal e o governo de muitos estados. Colocar líderes do bem comum, pessoas que de fato professam sua confiança nos valores democráticos para assumir a condução do país.
Ainda nesse cenário político, o senhor acredita que há na política nacional a apropriação de discurso religioso e moralista para práticas de políticas que nem sempre defendem a dignidade da pessoa humana? Se sim, como essa apropriação desfavorece as religiões?
Estou certo disso. E este é um dos principais problemas que nós temos hoje: a associação de manifestações religiosas, conservadoras e reacionárias com o poder autoritário obscurantista como o que nós temos agora. O poder autoritário somado à religião reacionária e conservadora é um combustível com alta possibilidade de inflamar seriamente e queimar tudo, e de fato isso está acontecendo, e é péssimo para as religiões ou talvez as ajudem a serem purificadas.
O que está aqui em jogo não é essa ou aquela religião, mas partes das religiões que vão ali para aquele corredor por onde o presidente passa [o cercadinho do Palácio do Planalto] e ali tem padre, evangélicos, mas ali não está a religião pentecostal, não está a Igreja Católica, estão parcelas desses grupos que precisam ser respeitadas. Essas pessoas normalmente no âmbito da sua igreja revelam um desequilíbrio religioso.
Eu costumo dizer que o mais perigoso de todos os fanatismos é o religioso, porque ele lida com o simbólico, com aquilo que faz um sentido dentro da cabeça e do coração da pessoa. Eu não tenho dúvida de que há uma apropriação proposital do religioso para justificar o poder autoritário, um poder que não se dispõe a dialogar com o outro, a respeitar a diferença do outro. [...]
Mais perigoso inclusive que o pentecostalismo é o neopentecostalismo. Não só as Igrejas neopentecostais, mas o neopentecostalismo que está dentro da Igreja Católica e que vai, digamos assim, fabricando fanáticos religiosos, fundamentalistas. É muito perigoso.
A pandemia escancarou a desigualdade social e o poder de ação, da prática da solidariedade entre agentes das pastorais e movimentos da Igreja Católica. A campanha “É tempo de cuidar” quer reforçar esse cuidado?
A campanha “É tempo de cuidar” quer sensibilizar as pessoas para tomarem do que têm, seja muito ou pouco, e repartir com os que não têm, porque a situação de fome aumentou assustadoramente. O Brasil foi recolocado no mapa da fome. Então, em primeiro lugar, é preciso exercer a solidariedade. Segundo, é preciso mobilizar-se, estar junto com os outros para exigir mudanças mais profundas. Vou dar apenas um pequeno exemplo. Eu posso todos os dias doar um pouquinho do que tenho, mas posso fazer isso com todas as pessoas do meu município? Não posso; o poder público pode. É isso que é política pública e que devemos cobrar, tornar universal o direito da pessoa.
O senhor participou de live com o vereador Eduardo Suplicy, um parlamentar que em toda sua trajetória lutou para a implementação de uma renda básica ao povo mais pobre e mais vulnerável. Esse é um caminho possível para minimizar a desigualdade social?
O que o Eduardo Suplicy apresenta é algo ligado à Constituição [Federal de 1988] que garante a cobertura das necessidades básicas de todos os brasileiros e brasileiras, indistintamente. O que o Eduardo Suplicy faz como um humanista é transformar em lei que regulamenta a renda básica de cidadania para que cada pessoa que precise receba essa renda e possa viver dignamente. Quando o cidadão ou a cidadã já consegue essa renda básica por si mesmo, ele passa a independer dessa obrigação do Estado. Isso é para a dignidade da vida humana. Essa lei já foi aprovada, só não foi cumprida [lei 10.835, de 8 janeiro de 2004]. A renda básica de cidadania é a superação do Bolsa Família, da ajuda emergencial. [...] A desigualdade social é um pecado sob o ponto de vista da fé. Não é possível que uma pessoa tenha tanto e o outro não tenha nada, nem o necessário para comer e beber, não tem água potável. Isso estoura, arrebenta qualquer lógica. Isso só se encontra dentro da lógica do neoliberalismo, que é o que preside a cabeça dos gestores do campo econômico no Brasil hoje.
Além disso, precisamos de política pública, das políticas públicas dos campos estruturais. A renda básica já abre um caminho fundamental...
O SUS é um bom exemplo de política pública efetiva, não?A pandemia também escancarou isso...
O SUS merece nosso respeito, mas precisa de financiamento, recursos. Ele já é bom, mas pode ser muito melhor. Precisamos de política pública para uma educação de qualidade, para a habitação. As pessoas precisam morar: este é um verbo fundamental e estruturante da pessoa humana. Cuidar dessas situações é humanismo, humanismo cristão puro, porque Jesus foi pura alteridade. Ele se deu plenamente, ele morreu assassinado na cruz, brutalmente, porque se deu completamente, e quem come a carne dele, quem bebe o seu sangue, quem está na comunhão profunda com ele, tem a obrigação da alteridade, do humanismo. Não pode ficar nessa disputa, digamos assim bastante idiotizada, porque quem acusa o outro de comunista precisa rever a sua posição. O que você faz para resolver o problema das pessoas na raiz?
Lembro aquela passagem de dom Helder [Câmara]: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo; quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista".
Nós queremos saber por que as pessoas são pobres e queremos resolver o problema na raiz. Preciso ajudar a resolver esse problema, de modo que todos possam viver com dignidade.
Dom Mol, costuma-se dizer que a sociedade brasileira está politicamente dividida não em polos iguais, mas ao que parece na incapacidade do diálogo. Vemos isso em nossas famílias e também em ataques, inclusive às entidades ligadas à Igreja Católica, como a CNBB, Cimi, editoras e universidades católicas, o próprio papa Francisco é atacado. Como superar tais cismas e promover diálogo diante de discursos que vestidos de cunho religioso atacam a dignidade da pessoa humana? Como fazer isso?
O diálogo é muito importante, é uma chave para o entendimento, mas não pode ser uma espécie de apanágio, ele tem pressupostos. Só dialoga quem, de um lado e de outro, tem amor à verdade. Segundo, só pode dialogar de forma proveitosa quem respeita as diferenças. Terceiro, tem que ter a capacidade de ceder.
Não tem jeito de ser católico em oposição ao magistério do papa; ele é ponto de convergência. A CNBB está em comunhão com o papa. Então, se eu estou contra os bispos que estão em comunhão com o papa, estou contra todo mundo, não sou católico. [...] As pessoas que atacam a CNBB em nome da fé, da doutrina, da Igreja precisam se perguntar com quem estão em comunhão.
Não estou dizendo que o conflito vai acabar. Os bispos também pensam diferente e isso é uma riqueza, mas o diálogo não resolverá tudo, porque a Igreja herdou de Jesus Cristo uma coisa que é muito importante: a profecia. Vai ter sempre ataque, gente que agride. Quem é cristão e segue o caminho de Jesus tem que ter a predisposição para em algum momento ser caluniado, ser difamado, ser acusado falsamente, ser agredido nas palavras e às vezes até fisicamente.
Temos que buscar o diálogo, nos entendermos e construir a unidade a partir do magistério da Igreja, mas também cultivar uma espiritualidade que supõe que implica algum tipo de agressão. Aliás, quando sou agredido eu pergunto assim: ‘quem está me agredindo’? Conforme a resposta, essa agressão é muito bem-vinda. Se estou sendo agredido por quem quer destruir a condição humana, a fé, o amor a Deus, a dignidade humana etc. é sinal de que estou defendendo tudo isso, e disso não vou abrir mão, eu vou defender sempre.
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